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Pesquisa norte-americana de 2021 aponta que cigarros eletrônicos dobram as chances de disfunção erétil nos homens. À GQ Brasil, médico urologista explica causas, efeitos e os tratamentos adequados

Vape, pen-drive, POD... hoje em dia existem diversas denominações quando o assunto é cigarro eletrônico. Trata-se de um pequeno aparelho, disponível em diferentes cores e formatos, que foi vendido inicialmente como uma alternativa para quem gostaria de parar de fumar. No entanto, dados recentes apontam que não só o vape é ineficaz para esse objetivo, como ele traz novos riscos, sobretudo para os jovens, atraídos pelas essências muitas vezes doces misturadas aos produtos tóxicos.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a troca do cigarro pelo cigarro eletrônico não diminuí em nada o risco ao usuário, provocando e agravando diversos problemas de saúde. Essa variedade de opções de "sabores", pior, pode aumentar o risco de desenvolver um vício.

A novidade recém descoberta pelas Insituições New York University e Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, é que o uso do cigarros eletrônicos pode também aumentar a probablidade de disfunção erétil nos homens.

A pesquisa foi publicada na revista científica American Journal of Preventative Medicine em novembro de 2021, e apresentou um alerta importante relacionado à saúde sexual masculina

De acordo com os dados, os homens que utilizam os "vapes" possuem 2,4 vezes mais de apresentar problemas no desempenho sexual. Cerca de 45.971 homens norte-americanos com idades entre 20 e 65 anos, participaram da análise. 

GQ Brasil conversou com o médico urologista Danilo Galante, formado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com doutorado em urologia pela The Brady Urological Institute at Johns Hopkins, para entender melhor a relação entre o uso dos cigarros eletrônicos e a disfunção erétil. A entrevista você confere a seguir:

GQ Brasil: Qual a relação entre o fumo (no geral) e o desempenho sexual?

DG: A disfunção erétil é causada pelo cigarro é uma situação em que os vasos sanguíneos do pênis – responsáveis por conduzirem sangue e assim provocarem a ereção – sofrem com a perda de endurecimento das paredes, o que chamamos de inflamação vascular. O sangue não chega da mesma forma e o desempenho é afetado. A disfunção erétil vascular é uma das piores que existem do ponto de vista do tratamento. Ela é crônica e pode piorar

GQ Brasil: Sabemos que o cigarro eletrônico é indicado para quem deseja parar de fumar. Na sua avaliação, esses novos dados descobertos já seriam o suficiente para alterar essa recomendação?

DG: A nicotina é uma das principais substâncias encontradas tanto no cigarro normal como no vape. Muitas pessoas acreditam que os vapes não fazem mal porque não possuem substâncias que queimam como o alcatrão, mas, em contrapartida, eles possuem várias propriedades nocivas que existem no cigarro comum; chumbo, alumínio, metais pesados em geral. Já foi comprovado que eles causam vários problemas como doenças cardiovasculares, derrame, e disfunção erétil.

Um dos maiores problemas desses cigarros eletrônicos da moda é que eles são altamentes viciantes e não possuem alguns dos problemas do cigarro normal, como, por exemplo; mal cheiro, dentes amarelados e tosse. Essa são as situações que impedem muitas pessoas de fumar. O vape facilita o fumo e é comprovado que ele detém um poder de vício de 3 a 5 vezes maior que o cigarro, então eu não sei até onde essa recomendação de passar a usar cigarros etetrônicos para quem deseja parar de fumar é válida.

GQ Brasil: Como a disfunção erétil pode ser tratada? Tem cura?

DG: Uma vez que existe essa inflamação, não tem muito o que fazer pra voltar atrás. É preciso interromper o cigarro e cuidar da saúde, é a única maneira de diminuir a progressão da doença. A gente consegue diminuir a piora com tratamento, mas não é possível regredir ao zero. O que fazemos, geralmente, é utilizar medicações para melhorar a ereção, a mais famosa delas é o viagra. Também existe um tratamento que é feito com injeções no pênis, para estimular seu endurecimento. E a forma de tratar mais radical que existe é a prótese peniana. 

GQ Brasil: Existe um imaginário popular de que apenas homens mais velhos ou a partir de certas idades lidam com disfunções de ereção. Isso é mito ou o panorama atualmente inclui com mais frequência os homens mais jovens?

DG: Os homens mais velhos possuem mais doenças, consequentemente. problemas metabólicos, renais, arteriais, enfim... tudo isso é fator de risco para a disfunção erétil. O que acontece é que pelo menos 30 a 40% das disfunções são psicogenética, ou seja, de origem psicológica. Isso inclui quase a totalidade do jovens. Por isso, é bobagem pensar que os homens mais novos não sofrem com problemas de ereção, só o que muda é a causa. O homem jovem fumante há cinco anos não vai desenvolver um quadro de disfunção erétil, mas esse mesmo jovem vai virar um idoso que fumou por 30 anos e aí terá um desempenho sexual comprometido.

GQ Brasil: Atualmente o uso dos vapes são uma febre entre o público jovem. O senhor acredita que seria preciso de uma campanha de alerta para os riscos do produto?

DG: Até o momento, não temos nenhuma campanha voltada ao uso dos vapes, mas acho que seria importante ter. Todas as campanhas voltadas à prevenção são mais efetivas em comparação as campanhas de tratamento. É mais fácil evitar os pacientes de terem, do que correr atrás quando a doença já estiver instalada. Então com certeza valeria a pena investir uma mobilização para a campanha de alerta, tanto pela Sociedade Brasileira de Urologia como o Minstério da Saúde.

GQ Brasil: Além de evitar cigarros eletrônicos (e os comuns), existem outras coisas que você alertaria para prevenir a disfunção erétil?

DG: Existem dois motivos que causam a disfunção erétil: o orgânico e o psicológico. O primeiro é associadado a doenças como pressão alta e diabetes. O fumo já foi um dos principais destes, mas desceu bastante na lista nos últimos anos. Sendo assim, pensando nas possíveis causas, a melhor forma de prevenção é matendo uma vida saudável. Ter os níveis de glicemia e pressão arterial em dia, evitar a obesidade e o uso de cigarros, e claro, fazer exercícios físicos com frequência. O sono e o estresse também são importantes e possuem relação direta com o desempenho sexual. Se prevenir significa manter uma boa qualidade de vida. 

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